Sinopse:
Entre as vítimas de um atentado terrorista ocorrido durante um jogo de futebol em Londres, estão o marido e o filho da mulher que, destroçada, escreve agora uma carta a Osama bin Laden. Num tom simultaneamente emotivo, lúcido, magoado e chocantemente humorístico, ela tenta convencer Osama a abandonar a sua campanha de terror, revelando a infinita tristeza e o coração despedaçado de quem, no fundo, é apenas mais uma das suas vítimas. Mas o atentado é apenas o começo. Enquanto medidas de segurança transformam Londres num território virtualmente ocupado, a narradora também se encontra sob cerco. De início, ela recupera forças ajudando no esforço antiterrorista. Mas quando se envolve com um casal de classe alta, dá por si a ser gradualmente arrastada para uma teia psicológica de culpa, ambição e cinismo, que corrói a sua fé na sociedade que defende. E quando uma nova ameaça de bomba atira a cidade para mais uma vaga de pânico, ela vê-se forçada a actos de profundo desespero …Mas reside aí, talvez, a sua única hipótese de sobrevivência.
Um romance assombroso. O melhor romance que já se escreveu sobre o terrorismo.
Opinião:
Incendiário é um livro sobre vários temas. Com o terrorismo como pano de fundo, Cleave aborda as relações humanas, as clivagens sociais, a perda, o sexo, o sofrimento e a loucura que todos temos adormecida no nosso interior à espera de uma faísca que lhe sirva de ignição. É um romance é uma comédia pintada de negro sobre uma sociedade pressionada ao limite tendo o terror como alavanca.Sendo este o segundo livro que leio do autor, trata-se do primeiro romance que ele escreveu.
A minha avaliação divide-se entre o muito bom e o mediano.
A obra está dividida em quatro partes: Primavera, Verão, Outono e Inverno. Na minha perspectiva o ambiente da narrativa é influenciado pela respectiva estação do ano, da mesma forma que as estações influenciam as pessoas e este é um livro que explora o comportamento humano. Cleave tem, aliás, formação em Psicologia Experimental e essa circunstância fornece-lhe atributos que o autor muito bem sabe explorar nos livros que escreve.
Pareceu-me que a primeira metade da obra está muito bem conseguida, Cleave caracteriza muito bem as personagens, atribui-lhes personalidade e coerência. Nem sempre consegui justificar, à luz da minha experiência, alguns comportamentos que li, mas o autor sabia o que queria e para onde me desejava levar. Lá fui com ele e gostei da viagem.
A segunda metade deste Incendiário, ou talvez tenha sido o último terço, não sei, não me pareceu tão bem esgalhado. A páginas tantas dei por mim a pensar:
- Foda-se mas o gajo sabe o que raio quer fazer desta história?!
E a resposta foi... Hã... Deu-lhe um jeito.
Penso que, enquanto desenvolvia o enredo, o escritor foi grandioso, todavia quando o quis concluir fiquei com a sensação que não sabia muito bem o rumo que dar à história.
Analisar a leitura de uma perspectiva filosófica levar-me-ia a afirmar que a exploração da condição humana pressionada ao limite nos leva ao coiso e tal...
Como normalmente a base da minha análise se prende com o prazer que sinto, digo simplesmente que gostei muito de metade, assim-assim de um terço, e muito pouco de dois sextos.
Já agora, relativamente à tradução tenho algo a acrescentar.
O livro não tem uma vírgula. Uma só. A narradora, afirma por uma vez, na sua longa missiva a Osama Bin Laden que é este livro, que não sabe escrever muito bem. A Terence ela diz que não sabe usar as vírgulas, quando este acaba por lhe oferecer trabalho. Não conheço o texto original. Se por acaso a não utilização de vírgulas foi obra do autor devo aplaudir o trabalho de tradução por se manter fiel ao original.
Mas, porém, todavia, contudo... a leitura de um livro inteiro sem este tão "piqueno" mas fundamental sinal de pontuação torna-se um frete. Por inúmeras vezes tive de voltar atrás no texto para separar as orações e conseguir assimilar o conteúdo na íntegra.
Seja, pois, demasiado voluntarismo por parte de Cleave, seja demasiada parvalheira da senhora tradutora o certo é que não gostei.
Falando, neste caso escrevendo, para a senhora Isabel Alves, a tal da tradução, aqui fica uma lição de português (e aproveite porque esta é de borla):
"Antes DE MAIS devo dizer que V.Exa. erra DEMAIS".
Consegue perceber a diferença na utilização??
É que já chateia, mas chateia-me à brava, (e agora dirijo-me ao enxame todo) tantos livros em que as ilustríssimas intelectualidades que fazem as eloquentíssimas traduções... não sabem escrever Português.
Pronto. Já está.
Boas leituras.